segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fernando Pessoa/120 Anos: Do fado ao hip hop, todos cantam o "poeta múltiplo"

Moderna, urbana e múltipla, a poesia de Fernando Pessoa ainda é hoje das mais requisitadas na música portuguesa, do fado ao pop rock e agora também na cena hip hop e electrónica. Fernando Pessoa nasceu no século XIX, há 120 anos, publicou apenas uma obra literária ("Mensagem"), mas - como um cometa - deixou um rasto poético que muitos músicos portugueses consideram ser actual, do século XXI. O músico José Campos e Sousa, ex-Banda do Casaco, foi um dos primeiros artistas portugueses a dedicar um álbum completo à poesia de Fernando Pessoa, em 1983, intitulado "Em Pessoa". "A música, o ritmo está na poesia de Pessoa, só é preciso senti-la", disse à agência Lusa, referindo que "Liberdade" foi o primeiro poema de Pessoa que gravou, em 1977. José Campos e Sousa recordou que, ainda antes de gravar Pessoa, já cantava os poemas do escritor, "como afirmação numa altura, pós-25 de Abril [de 1974], em que o poeta era visto como fascista". Entre os 50 poemas que trabalhou conta-se "Cavaleiro Monge", que diz ter musicado e registado antes de Mariza ter gravado o mesmo poema, com música de Mário Pacheco. Fernando Pessoa escreveu que "fado é poesia ajudada" e foram muitos os fadistas e compositores que recriaram os seus poemas, como Mariza, Camané, Teresa Tarouca, João Braga, António Mourão, Maria da Fé ou Carlos do Carmo. João Braga gravou um álbum, intitulado "Portugal" (1984), exclusivamente com poemas retirados da "Mensagem". À Lusa, o fadista contou que decidiu musicar Fernando Pessoa depois de uma conversa com Amália Rodrigues: "Disse-me que achava que o Pessoa não era cantável e eu para lhe provar o contrário decidi tentar". A poesia de Pessoa é "fácil de musicar", disse o fadista, porque "a música e o ritmo estão nos próprios poemas". "Menino de sua mãe" foi o primeiro dos 44 poemas - todos de Pessoa e nenhum dos seus heterónimos - para os quais João Braga criou melodias. Só da "Mensagem" escolheu 17. Camané canta dois poemas de Pessoa em "Sempre de mim", o seu mais recente disco: "Ser aquele", na melodia do Fado Menor, e "Tudo isso", na música do "Fado Jovita", de Frutuoso França. "Quando eu pensava que já não havia nada mais de Pessoa que pudesse ser cantado, descobri estes dois poemas, que interpreto em fados tradicionais", disse à Lusa Camané, que desde 1995 tem integrado poemas de Pessoa em todos os seus álbuns. A intenção e a forma como "joga" com as palavras, "os seus segundos sentidos" são, para Camané, factores cativantes na poesia do escritor. O guitarrista Mário Pacheco, que já musicou vários fados para textos de Pessoa, como "Cavaleiro Monge" e "Há uma música do povo", é mais sucinto a descrever a poesia do escritor: "É perfeita". "É fácil musicar Pessoa, pois a sua poesia é perfeita e está lá tudo: a métrica, a acentuação, as tónicas, facilitando o cantar", descreveu à agência Lusa. "Pessoa tem tudo para ser cantado", sublinhou Mário Pacheco, que está actualmente a trabalhar num outro poema de Pessoa. Na música erudita contemporânea foram vários os compositores que se apropriaram da poesia de Pessoa para criar partituras inéditas, entre os quais Fernando Lopes-Graça e Joly Braga Santos. Mais recentemente, o jovem maestro e compositor Pedro Amaral está embrenhado numa obra de fôlego a partir da poética de Pessoa, que diz ser o "maior marco da cultura portuguesa". No final de 2007, Pedro Amaral estreou um excerto da ópera "O Sonho", a partir de fragmentos de Pessoa sobre o mito de Salomé, e a obra coral "O Jogador de Xadrez", partindo de uma ode de Ricardo Reis. A ópera só deverá estrear-se no final de 2009 e integrará, a par de "O Jogador de Xadrez", um espectáculo maior, sem data de conclusão e de estreia, que inclui Fernando Pessoa e os seus heterónimos como personagens centrais. "Para um artista é extremamente apelativo pegar na obra do Pessoa, é como ter à frente o Evereste e ser impossível não o escalar", disse à Lusa o compositor, que recorreu aos manuscritos de Pessoa na Biblioteca Nacional para compor. Depois do fado, da música erudita e da canção popular, a poesia de Fernando Pessoa será este ano interpretada por artistas do mundo hip hop. Intitulado precisamente "Fernando Pessoa Hip Hop", o projecto inclui um concerto (dia 13 em Lisboa) e a edição de um disco em Setembro pela Loop Recordings, a partir de um desafio feito pela Casa Fernando Pessoa. "A ideia é fazer chegar às novas gerações a poesia de Fernando Pessoa, um poeta moderno e urbano", disse à agência Lusa o editor e programador Rui Miguel Abreu. Entre os músicos convidados contam-se Melo D, o rapper Sam the Kid, que convidou o pai para declamar Pessoa, Maze e Fuse, membros dos Dealema, a cantora Marta Hugon, o saxofonista Rodrigo Amado e o guitarrista André Fernandes, todos eles do jazz, e o músico D-Mars, que assina a direcção artística do projecto. "Não é hábito os rappers pegarem em textos alheios, mas é muito interessante ver como Pessoa é tratado pela mão de quem manipula a palavra como eles", referiu Rui Miguel Abreu. A ideia de modernismo e actualidade na poesia de Fernando Pessoa é sublinhada por Pedro D´Orey, um dos elementos dos Wordsong, que em 2006 gravaram um álbum dedicado ao poeta. "Nós sabíamos que Pessoa tem uma carga institucional muito forte, mas queríamos tirá-lo da prateleira, limpar-lhe o pó e mostrá-lo como se tivesse nascido hoje. É o mais completo dos poetas", disse o músico, que esteve esta semana com os Wordsong num festival de poesia em Itália. Fora de fronteiras, é no Brasil que se encontram muitas reinterpretações musicais da obra de Fernando Pessoa. Adriana Calcanhotto, Milton Nascimento, Chico Buarque, José Miguel Wisnik, Caetano Veloso, Edu Lobo, Dorival Caymmi são alguns dos autores brasileiros que já compuseram a partir da poesia de Pessoa. Maria Bethânia editou em 1997 "Imitação da vida", álbum em que dizia poemas de Pessoa.
(in Agência Lusa, 2008.06.07 )

Há uma música do povo (Fernando Pessoa)

Este é o poema de Fernando Pessoa que Mariza canta:

Há uma musica do Povo,
Nem sei dizer se é um Fado
–Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado…

Ouvindo-a sou quem seria
Se desejar fosse ser…
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver…

Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção…
Que a minha alma já não chora
Nem eu tenho coração…

Sou uma emoção estrangeira,
Um erro de sonho ido…
Canto de qualquer maneira
E acabo com um sentido!

E aqui fica este vídeo em que Mariza canta o poema junto à Torre de Belém:

domingo, 28 de setembro de 2008

Manifesto Anti-Dantas

Este texto virulento do jovem Almada (que contava 23 anos) terá sido escrito entre Abril e Setembro de 1916, sendo, portanto, anterior à conferência de 1917, início oficial do movimento futurista em Portugal.
Saiu este folheto de 8 páginas impresso em papel de embrulho, ao preço de 100 reis, todo grafado em maiúsculas e utilizando aqui e além, para sublinhar a onomatopeia - PIM!-, uns ícones representando uma mão no gesto de apontar. Segundo se diz, terá esgotado nos primeiros dias, por obra do açambarcamento do próprio visado. Apesar disso, ou graças a isso, o escândalo rapidamente se propalou e a polémica causada teve uma grande intensidade. É que, no fundo, não é só a pessoa de Dantas que é atacada, mas toda uma geração de literatos, actores, escritores, jornalistas, etc, que ele personificava: "Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi". Através da ironia e do sarcasmo, utilizando uma linguagem iconoclasta e insultuosa, abusando de exclamações, repetições e enumerações, Almada zurze o academismo instalado e os valores tradicionais que pretendia abalar.
Em suma, trata-se de um ataque implacável ao edifício cultural e artístico vigente que impedia a entrada e frutificação das novas correntes estéticas em Portugal.
Podem conhecer o texto completo clicando aqui. E podem apreciar a espantosa leitura feita por Mário Viegas no vídeo em baixo.

Padre António Vieira vs. Santo António (de Lisboa)

A propósito do «Sermão de Santo António aos Peixes», é frequente, nos alunos, a confusão entre o autor do texto (o Padre António Vieira) e a figura louvada ao longo do mesmo, o celebrado Santo António de Lisboa. Deixo aqui links que vos permitirão conhecer melhor a biografia de cada um deles, de maneira que essa confusão não aconteça em trabalhos que realizarão mais tarde, ou até mesmo num teste. Visitem, então, as vidas de Santo António e do Padre António Vieira.

APRESENTAÇÃO


Este blogue tem (à partida) como objectivo essencial a interacção com a comunidade educativa em que estou integrado, o Colégio de São Gonçalo, mas pretendendo, sobretudo, colocar em prática uma diferente forma de comunicação com os alunos de que sou professor. Será, como tal, um espaço através do qual procurarei fornecer-lhes outras perspectivas sobre os conteúdos programáticos leccionados, sobre temáticas exploradas, sobre tudo, enfim, que lhes permita, de alguma forma, enriquecer os seus horizontes pessoais e culturais. E será também, obviamente, espaço de oportunidade de resposta e de confronto da parte deles e de todos que assim o desejarem. Abra-se, então, esta nova janela!

sábado, 27 de setembro de 2008

Acção de formação



Iniciei, hoje, a acção de formação que tem como título «Utilizações dos meios interactivos no Ensino da Língua Portuguesa», a decorrer no Colégio São Gonçalo, em Amarante. Primeiramente, fez-se a indispensável apresentação, do formador e de formandos. Depois, foram definidos os objectivos e a metodologia de trabalho. A seguir, pôs-se em prática o trabalho - a partir de pequenos momentos em que o Luís punha à prova os nossos conhecimentos sobre os meios interactivos, iniciámos a caminhada da experimentação desses mesmos meios: o «e-mail» e respectivo correio electrónico; os blogues, do que derivou este mesmo; e o «pod-cast». Os outros ficarão, entretanto, para a próxima sessão. Um dia de trabalho (quando deveria ser de descanso!), mas muito bem aproveitado e compartilhado! - e o tempo foi testemunha disto mesmo: passou tão depressa que ficou a faltar mais!